No Espírito atrasado a vida material prevalece sobre a espiritual. Apegando-se às aparências, o homem não distingue a vida além do corpo, esteja embora na alma a vida real; aniquilado este, tudo se lhe afigura perdido, desesperador. (O Céu e o Inferno – Allan Kardec – Temor da Morte – Cap. II – Causas do temor da morte).

Esse pequeno trecho de Kardec, analisando o temor da morte que os homens sentem desde os primórdios, necessita de um olhar mais aguçado para entender melhor o que ele quer efetivamente nos dizer. Não basta uma leitura “en passant”.

A vida material prevalecendo sobre a espiritual, qualquer que seja a natureza dessa prevalencia, é motivo para creditar ao espírito o estado de atrasado?

Se o for, mister perquirir um pouco mais e verificar cada um de per si qual a dependencia material que nos prende ou nos condiciona ao corpo físico. Daí, podemos responder se reunimos as condições necessárias para distinguirmos mais acuradamente o que a vida nos reserva após a perda do corpo físico. Sem essas condições desenvolvidas o que nos sobra realmente é o desespero e o temor.

O que vemos, sem essas condições comentadas por Kardec, serão apenas aparências. Aparências não são realidades. E aí, como ficamos diante disso?

O que é real?

Segundo Kardec, real é o que existe na alma. E, não reunindo condições para conhecê-la mais profundamente, resta-nos o mundo material perecível que nos causa pavor diante das transformações que a matéria sofre. O corpo vai mudar, mesmo que não queiramos. Mesmo sendo aparente, haverá a mudança.

Resta-nos conhecer a nós mesmo, como disse certa vez Sócrates. Talvez cheguemos no mundo real menos apavorado.